HISTÓRIA DA URBANIZAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE ALTOS
Esse post vai ativar a sua memória... Relembre conosco como nossa cidade se desenvolveu e veja algumas imagens do passado...
1. UMA INTRODUÇÃO AO INÍCIO DA URBANIZAÇÃO DE ALTOS
Alguns anos antes da Proclamação da República (1889), na região de Altos havia uma grande quantidade de fazendas. A povoação ficava perto da nova capital, fundada em 1850, em terras que, antes disso, haviam pertencido às Vilas de Campo Maior (primórdios) e à Vila de Marvão (1840), mas que, depois, passaram a pertencer a Teresina, Alto Longá e Campo Maior (Municípios que doaram parte de seu território para a criação da Vila e Município de Altos em 1922).
Seguem alguns fatos importantes que marcaram o início da criação de um núcleo urbano que corresponde ao que hoje chamamos Centro de Altos, Piauí, todos com datação extraída de documentos e pesquisas por parte dos pesquisadores Carlos Alberto Dias e Chiquinho Cazuza, que assim seguem em síntese:
1885
- Criação do Cemitério Público, iniciativa do Cônego Honório José Saraiva, com ajuda de João de Paiva, dono do lugar, e outros membros da população altoense.
1891
- 11 de março: Foi criada a Cadeira Mista da povoação de Altos, que se tornou a primeira escola pública, por iniciativa de Cônego Honório e intercessão do Dr. Jayme de Albuquerque Rosa junto ao governo do Estado; nessa data foi também nomeada a primeira professora, Joanna de Abranches Saraiva, por ato do Governador do Piauí Álvaro Moreira de Barros Oliveira Lima.
- 02 de abril: João de Paiva Oliveira (filho) é nomeado Inspetor do Ensino da povoação dos Altos pelo Governador do Estado do Piauí Álvaro Moreira de Barros Oliveira Lima, atendendo proposta do Diretor Geral da Instrução Pública do Piauí.
- 02 de abril: o Cônego Honório José Saraiva, Vigário Geral Forense da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo (1883 a 1903), contando com a ajuda da população, levantou a primeira capela da povoação dos Altos. Era, então, uma capela de palha, dedicada a São José.
- 20 de setembro: oriundo de Alto Longá, onde era comerciante e político, exercendo, inclusive o cargo de vereador, ocupando a presidência da Câmara Municipal, Procurador da mesma Câmara e membro da Comissão de Socorro dos Humildes, entidade que atendia os flagelados da seca, chega a Altos o Capitão Francisco Raulino da Silva, junto com a esposa Anna Francisca da Silva, estabelecendo, aqui, o primeiro comércio, loja de tecidos nacionais e estrangeiros e outras mercadorias, iniciando também a exportação de peles, cera de carnaúba e algodão. Ao chegar, comprou de João de Paiva Oliveira (filho) terras onde hoje se localiza o centro da cidade. Passou, desde então, a exercer grande influência na vida social e política da comunidade. Nessa época Altos contava com apenas nove casas, todas cobertas de palha.
1892
- o capitão Francisco Raulino da Silva consegue a instalação da Coletoria Estadual, destinada à arrecadação de imposto e tributos para o Estado.
- O capitão Francisco Raulino da Silva constrói a primeira casa de telhas do povoado.
1893
- janeiro: o capitão Francisco Raulino da Silva, usando de seu prestígio junto ao Governador do Estado, Capitão Coriolano de Carvalho e Silva obtém a vinda do primeiro destacamento policial para a povoação dos Altos.
1894
- o capitão Francisco Raulino da Silva consegue do Governador do Estado, capitão Coriolano de Carvalho e Silva, uma verba de nove contos de réis para a perfuração de um poço público e a construção de um açude para abastecer a população. O açude foi construído sob orientação do engenheiro Tenente-Coronel Manoel da Costa Teixeira.
1896
- 04 de fevereiro: por ato do Diretor Geral Emídio Adolfo Vitório da Costa, chefe do sistema no Piauí, foi criada a Agência Postal Telegráfica da povoação dos Altos, que corresponde atualmente à Agência dos Correios e Telégrafos, sendo nomeado agente o Capitão Ludgero Raulino da Silva, filho de Francisco Raulino da Silva.
1898
- 13 de julho: Decreto Estadual de nº 75, desta data, cria uma Cadeira Mista de 1º grau em Altos e duas em Teresina (ensino primário).
1901
- 13 de julho: lançada a pedra fundamental da Igreja de São José, pelo Cônego Honório José Saraiva.
1902
- 22 de abril: aparecimento do jornal A Tesoura, de Benedito Pestana, que o fazia à mão. Notícia do primeiro Grupo de Teatro.
1904
- 27 de janeiro: morre o cônego Honório José Saraiva, vítima de lepra, em Altos. Foi enterrado na primitiva igreja de São José, ainda em construção.
1906
- 24 de março: o vice-governador do Piauí, Dr. Areolino de Abreu, nomeia para os cargos de Subdelegado de Polícia e 1º suplente deste, do 13º Distrito do município da capital piauiense, correspondente ao povoado de Altos, os cidadãos José Olindo Saraiva Barbosa (Cazuza Barbosa) e Libânio José de Sousa.
1913
- 03 de março: Maria do Ó Barros Barbosa é nomeada professora efetiva da povoação dos Altos, na Escola Mista, sendo a primeira professora diplomada do lugar. Tomou posse no dia 10 do mesmo mês e ano.
1914
- O diretor da Instrução Pública informa que Teresina possui cinco escolas mistas, a saber: da Avenida Frei Serafim ao Campo de Marte, do povoado de Altos ao povoado do Poty Velho, todas lotadas com professoras formadas na Escola Normal.
1916
- É criada a Euterpe Altoense, a primeira banda de música de Altos.
1917
- 23 de dezembro: cria-se em Teresina a Paróquia de São Benedito, desmembrada das paróquias de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Amparo. De extensão gigantesca, o território da nova paróquia passava pelo meio do povoado de Altos, compreendendo “as fazendas e moradas seguintes: pela margem do rio Poty acima os logares: “Comprida”, “Redonda”, “Poço Magro”, “São Sebastião”, “Saco”, “Nova Olinda”, “Cebolas”, “Extremas”, “Formosa”, “Baixa do Gonçalo”, “Lages”, “Resfrio”, e outros”. Mais adiante, na ata de criação e ereção canônica da Paróquia de São Benedito, ao listar as localidades pertencentes à nova paróquia situadas à margem direita da estrada de Campo Maior, lê-se que abrange também “o trecho do povoado ‘Altos’ do mesmo lado da dita estrada, que seguindo pela rua actualmente chamada da ‘Feira’, passa pelo largo da Capella de S. José” (...).
1919
- junho: o censo registra a população altoense em duas mil almas.
1922
- Realiza-se recenseamento da população com idade escolar em Teresina e nos seus povoados (Nazária, São Domingos, Porto do Centro, Santana e Altos), onde se constata a existência de 3.392 crianças. Para atender esta população, colocando cinqüenta alunos por escola, seriam necessárias 70 salas de aula, assim distribuídas: 55 na capital, 05 em Altos, 02 em Nazária, 02 em São Domingos, 03 em Porto do Centro e 03 em Santana. Pelo referido censo existe 01 escola em Altos para 88 crianças; em São Domingos, 01 escola para 104; no Porto do Centro, 01 para 173; em Santana, 01 para 85.
- 18 de julho: a Lei 1.041, sancionada pelo Governador João Luís Ferreira, cria o Município de Altos, desmembrando a sua área dos territórios de Teresina, Alto Longá e Campo Maior e a Comarca de Altos, compreendendo a povoação desse nome, antigo São José dos Altos de João de Paiva, a qual se eleva à categoria de município, tendo Alto Longá como distrito judiciário.
- 12 de outubro: às 13 horas, na Casa da Intendência Municipal, ocorre a solenidade de instalação da Comarca e do Município de Altos, tomando posse o 1º Juiz de Direito, Dr. Odorico Jayme de Albuquerque Rosa; o 1º Intendente (Prefeito) Dr. Alfredo Gentil de Albuquerque Rosa e o vice-Intendente Manoel José de Almeida. Também nesse mesmo dia tomou posse a 1ª Câmara de Conselheiros (vereadores), formada por Antônio Ribeiro de Vasconcelos, Lourenço Saraiva Barbosa, José Tibúrcio do Monte, José Francelino de Morais e João Simeão da Silva, dentre outras autoridades. Para auxiliar o Juiz de Direito, Dr. Odorico Jayme de Albuquerque Rosa, foi nomeado e empossado, às 9 horas do dia 12 de outubro de 1922, na Casa da Intendência Municipal, o cidadão Ludgero Raulino da Silva, como Juiz Distrital, tendo como suplentes os senhores João Ferreira de Melo, Manoel do Porto Viana e Antônio Lopes Lima.
2. A PRAÇA E O SEU ENTORNO ATRAVÉS DOS TEMPOS
Nos anos que se seguiram à instalação do Município de Altos há notícia de outros melhoramentos urbanos, além dos acima elencados. Até hoje não se sabe dizer, contudo, exatamente quando surgiu a Praça Cônego Honório.
Eu cogito uma hipótese minha aqui de que, provavelmente, ainda antes de falecer o Cônego Honório, quando ele iniciara a construção da Igreja de São José, já havia o plano de destinar a área à construção de uma praça, ainda que esse plano nçao tenha restado documentado, pois era costume se deixar livre, em faixa contígua ao adro da igreja um rossio, um largo. Assim, é possível, mesmo, que sua existência já fosse mentalizada pelo próprio Cônego, responsável pelo início da construção da Igreja de São José. Tanto que, apesar das primeiras construções comerciais e residenciais terem se dado na região próxima à Igreja, não se construíram casas naquele lugar que deveria vir a ser a praça. Cônego Honório faleceu em 1904. Acredito que depois de sua morte, decidiu-se, como homenagem ao religioso que ajudou a elevar alguns dos primeiros melhoramentos urbanos da cidade de Altos e muito fez pela fé cristã no Piauí, batizar o local destinado à praça da Igreja com o seu nome: Cônego Honório Saraiva, o que provavelmente veio a ser oficializado nos primeiros anos de autonomia política, logo depois de 1922.
A hipótese traçada pelo historiador Carlos Alberto Dias (2018), digna de nota, não é muito diferente:
Não se sabe ao certo quando a nossa praça principal recebeu essa denominação. Tendo o eminente Cônego Honório José Saraiva falecido em 1904, supõe-se ter sido atribuído seu nome ao principal logradouro público de nossa cidade pelo Prefeito Municipal Lourenço Saraiva Barbosa, seu parente afim, e que governou em um primeiro mandato a cidade de 1925 a 1928, tendo sido ele o primeiro gestor eleito pelo voto direto dos altoenses. Alfredo Rosa, nosso primeiro Prefeito, foi nomeado pelo Governo do Piauí, sendo o Chefe do Executivo Municipal de 12.10.1922 a 31.12.1924. (DIAS, Carlos Alberto. Texto de Carlos Dias apresenta histórico da Praça Cônego Honório. Portal Altos, 30 dez. 2018. Disponível em: <http://portalaltos.com.br/496rujs8fs216>. Acesso em 23 out. 2024.).
Ao que se sabe, Donana Raulino, nome pelo qual era conhecida Dona Ana Francisca da Silva (1855-1935), esposa do Capitão Francisco Raulino da Silva, é quem teria plantado as mangueiras da praça ainda no século XIX. O seu esposo Capitão Francisco Raulino, muito colaborou com João de Paiva Oliveira (Filho) e Cônego Honório, e ainda com outros cidadãos, para a criação do núcleo urbano de Altos nos últimos anos do século XIX, e essa postura de Donana Raulino, me leva a crer (e essa é uma hipótese minha) que desde os primeiros esforços de se criar uma urbe, já se tinha em mente que aquele local deveria se destinar a sediar o largo da igreja (na época também chamado rossio), que equivale ao que chamamos de Praça. Por muitos anos Donana Raulino manteve uma Botica, na esquina de sua casa residencial, no cruzamento da Avenida Francisco Raulino com a Avenida João de Paiva.
Em 23 de dezembro de 1917, um documento que define os limites da recém-criada Paróquia de São Benedito, na capital do Piauí, menciona como limites a “rua da Feira”, que passa pelo “largo da Capella de São José”, no povoado Altos. (DIAS, Carlos Alberto. Na Fé da Minha Paróquia. Altos, 2009. p. 16).
Na época, ressalte-se, largo era uma denominação comumente usada para o que hoje se chama de Praça. A chamada “rua da feira”, creio eu, era, então, o que hoje chamamos de Avenida Francisco Raulino, que também já foi denominada de Getúlio Vargas (rua da feira, talvez, tenha sido o nome primitivo do logradouro, a antiga “Piçarra” destinada ao passeio público, depois substituído por Getúlio Vargas e Francisco Raulino). A feira de Altos, antes da construção do mercado público municipal (hoje Centro Cultural Zé da Prata – desde 2008) na década de 30 ficava naquele quarteirão que, hoje em dia, à frente é limitado ao norte pela atual Avenida Francisco Raulino (aproximadamente onde fica atualmente a Drogaria Alcantara, do empresário popularmente conhecido como “Farias”), a leste com a atual Avenida João de Paiva, a oeste com a Travessa Antonino Freire que o separa do Armazém Paraíba (situado no quarteirão ao lado), ao sul com a atual Praça da Independência. Já o “largo da Capella de São José”, inquestionavelmente era a Praça, nas feições que manteria aproximadamente até os anos 50.
Na imagem, quarteirão em que ficava a feira primitiva
A respeito do primitivo local da feira, nos fala a cronista Ignês Sousa, como era o lugar no início dos anos 30:
Outro passatempo agradável era o passeio à feira livre aos sábados, ali no coração da cidade, entre os dois blocos de casas, ainda hoje existentes (se bem que reformadas), do lado oposto aos Raulino.
Havia um grande barracão de palha, sem paredes, onde eram vendidas as carnes fresquinhas de reses abatidas na madrugada no mesmo dia. As lojas de tecidos eram seis e pertenciam aos senhores Antônio Ribeiro de Vasconcelos, José Francelino de Morais (Zé Baú), Francisco Coriolano, Francisco Cleto de Sousa e Antônio Pereira Cavalcanti – chegado de Piripiri.
A esquina do Edifício Barbosa era nesse tempo a “Casa Dois Irmãos”, de propriedade dos Srs. Emídio Barbosa e Lourenço Barbosa – loja de tecidos e compra de gêneros de exportação. Xis a essa esquina existia a Farmácia de Dona Ana Raulino.
Os demais quartos eram ocupados por pequenas mercearias e os salões de barbearia se concentravam ali também.
Os feirantes expunham suas mercadorias, produtos agrícolas, artesanatos de palha de carnaúba, frutas, etc, no chão da Rua Francisco Raulino e as mulheres cozinheiras vendiam comida à sombra de frondoso cajueiro, do outro lado da rua. A feira se estendia pelo outro lado do barracão, onde é hoje a Praça da Independência. Confrontando com o local do barracão, um estreito beco dava acesso à rua Domingos Félix. A velha casa da esquina foi demolida para ser construída a residência do Sr. Anísio Lima e o beco foi interditado.
A gente levava sempre um dinheirinho para comprar pamonhas de buriti, bananas, bacuris, pequis e outras coisas mais trazidas em cestos de taquara pelos feirantes vindos do interior
Fumo e rapaduras eram produtos que não podiam faltar. Tinha fama o fumo vindo do município de Pedro II. Nesse tempo, em Altos, muita gente usava o café adoçado com rapadura. Açúcar era luxo de poucos. (SOUSA, Ignês. Reminiscências. Maio de 1988. In: SOUSA, Ignêz. Simplesmente...Ignês Sousa. Obra póstuma organizada por Carlos Alberto Dias. Altos, 2016. p. 130-131).
Ao longo da década de 30, é construída a sede do antigo Mercado Público Municipal:
Tendo sido iniciada a sua construção em 1930 (ou 1931), o Mercado Público Municipal de Altos é um dos poucos prédios que resiste ao desenfreado trabalho de “modernização” do centro da cidade. A obra teve seu início no governo do Sargento PM (depois Tenente) Plínio Mozart de Morais, que governou a cidade como prefeito em comissão nos primeiros anos da década de 1930.
O sucessor de Plínio, seu cunhado Odorico de Almeida Saraiva, deu seguimento à obra de construção do Mercado, gastando para tal o montante de 1.080$669 (um conto, oitenta mil e seiscentos e sessenta e nove réis).
Ainda em 1935, a obra continuava inacabada, conforme se lê no relatório do Interventor Federal no Piauí, Tenente Landry Sales Gonçalves, datado de 30 de abril de 1935, em que presta contas ao presidente da República, Getúlio Vargas, da sua administração à frente do governo do Piauí no período de 1931 a 1935: “Altos faz a reconstrução do cemitério e construção do mercado e do matadouro (...)”, dentre outras realizações elencadas no citado documento. A obra do mercado somente foi concluída tempos depois.
É de fundamental importância na história da cidade o edifício público que por longas décadas sediou o Mercado Público Municipal de Altos, tendo sido ele uma das grandes obras dos primeiros anos de existência de nosso município enquanto vila independente.
Parcialmente descaracterizado em sua estrutura original, a edificação apresenta ainda muitas características da época de sua fundação. Apesar de não possuir grande riqueza arquitetônica, representa boa parte dos capítulos de nosso processo de urbanização. (DIAS, Carlos Alberto. Prata de Lei. 2. ed. Altos, 2019, p. 49-50)
Nas imagens: 1) foto de fins dos anos 50 e início dos anos 50 mostrando a feira (ainda não existia calçadão) e o mercado (ao lado a primeira sede da Prefeitura); 2) barraquinhas de feirantes no início dos anos 2000 no calçadão em frente ao mercado; 3) imagem do início dos anos 2000 mostra as barraquinhas da feira livre e o antigo mercado; 4) Centro Cultural Zé da Prata, inaugurado em 2008, no prédio do antigo mercado
Ignes Sousa também nos dá conta da mudança do local da Feira Livre de Altos para o entorno do Mercado, quando este ainda estava em construção:
Assim era o centro comercial de Altos e a feira livre, que foi transferida na administração do Sr. Plínio Morais, prefeito interino em exercício, sob a Interventoria do Tenente Landry Sales.
Funcionou [o novo mercado] primeiramente o galpão em área aberta com algumas barracas das cozinheiras ao seu derredor, sendo alguns anos mais tarde construída a quadra de quartos comerciais com a colaboração dos comerciantes existentes na época. (SOUSA, Ignês. Reminiscências. Maio de 1988. In: SOUSA, Ignêz. Simplesmente...Ignês Sousa. Obra póstuma organizada por Carlos Alberto Dias. Altos, 2016. p. 131).
A feira continuou naquele local por longo tempo, de modo que o jornal altoense Gazeta Municipal presta informações de como era a mesma por volta dos anos sessenta do século XX:
Em frente ao mercado e à antiga Prefeitura, já demolida, havia velhas figueiras, em cujas sombras se abrigavam os feirantes e vendedores de comidas e de gêneros alimentícios. Um detalhe interessante era que todos aqueles que vinham do interior participar da feira utilizavam, para transporte, animais de carga, enfrentando longas caminhadas em areias na estrada. Quando chegavam na cidade, amarravam seus animais nas árvores existentes na praça. (GAZETA MUNICIPAL, 1997, p. 02)
Entendemos que o relato acima se contextualiza no período até os anos sessenta, visto que é em 1967 que se vem a demolir a velha Prefeitura, para a construção de uma nova, o que se deu logo no início do segundo mandato de José Gil Barbosa (31.01.1967 – 31.01.1971), sendo a nova sede da Prefeitura inaugurada por aquele Prefeito em 29 de Junho de 1968.
A referência mais antiga que consegui encontrar que empresta ao velho lardo da Igreja o nome Praça Cônego Honório Saraiva, publicada no jornal A IMPRENSA, de 31 de julho de 1927, dá conta da inauguração, dia 20 de junho daquele ano, de uma sociedade mercantil sob a firma de Pinheiro & Santos, que tinha como sócios Antonio Pinheiro de A. Pereira e Mâncio Pereira dos Santos (pai de Cícero Oliveira Santos, que bem mais tarde viria a ser dono da empresa de ônibus C. Santos), quando, então, Altos já tinha conquistado sua autonomia política:
Ou seja, se confirma, nas proximidades da igreja, os primeiros estabelecimentos comerciais da cidade de que se tem notícia, ainda na década de 20, com a Praça já batizada de Cônego Honório Saraiva. Além deste comércio noticiado na imprensa, vê-se ainda, ali perto, o primeiro estabelecimento comercial, de propriedade do Capitão Francisco Raulino da Silva, uma loja de tecidos nacionais e estrangeiros e outras mercadorias, que se dedicou também a exportação de peles, cera de carnaúba e algodão. Sobre o comércio na região do centro, nos anos da década de 30 e seguintes, nos fala Ignês Souza por meio de texto escrito em 1992:
(…) a primeira casa comercial de Altos pertenceu ao Sr. Francisco Raulino da Silva (um dos primeiros líderes políticos da terra) e foi instalada em 1891 (...).
Já muitos anos antes de passar a cidade, existia a Botica de Dª Ana Raulino na esquina de sua casa residencial, no cruzamento da Rua João de Paiva com a Rua Francisco Raulino.
Naqueles tempos os médicos eram raros e o acesso a Teresina muito difícil. Era, então, muito procurado o capitão Vicente Pestana, esposo de Dª Altina, que residia atrás da pequena igreja de São José.
(...)
A partir dos anos trinta, quando Altos começou a desenvolver-se, o centro comercial contava seis lojas de tecidos e algumas mercadorias – naquela época chamavam quitanda.
A mais antiga loja (creio) pertencia aos senhores Lourenço Barbosa e Emídio Barbosa e ostentava na fachada o nome “Casa Dois Irmãos”. As outras eram propriedades dos Srs. Antonio Ribeiro de Vasconcelos, José Francelino de Morais (Zé Baú), Francisco Coriolano, Francisco Cleto de Sousa e Antonio Pereira Cavalcanti, chegado de Piripiri.
Estes foram os primeiros lojistas dos anos trinta. Outros foram surgindo.
Os donos de mercearias que permaneceram no ramo por longos anos foram apenas dois: Francisco Soares da Silva (Chico Rosa) e Miguel Telésforo do Vale.
Do início da década foi também o Botequim do Sr. Francisco Ferreira de Sousa – Chico Cazuza, que tinha variedades de bebidas nacionais e estrangeiras, etc... etc. mais tarde pegou o nome de Bar, que permaneceu em atividades ao longo da existência do seu dono.
É bom lembrar também o farmacêutico Giovani Martins, dono da primeira Farmácia propriamente dita, bem sortida de remédios variados e localizada no primeiro quarteirão da rua João de Paiva, à esquerda de quem parte do centro. Ele exercia funções de enfermagem, pequenas cirurgias, aplicações de injeções, etc..., etc. Era da família Martins, da Lagoa, neste município. Manteve a farmácia por uns dez anos mais ou menos. Antes da entrada dos anos quarenta, tendo vendido a farmácia. Viajou para o Rio G. do Norte, de onde não mais voltou. (SOUSA, Ignês. O comércio de Altos nos anos trinta. Janeiro de 1992. In: SOUSA, Ignêz. Simplesmente...Ignês Sousa. Obra póstuma organizada por Carlos Alberto Dias. Altos, 2016. p. 62-63).
Também ali próximo (na atual Rua São José, mais ou menos onde hoje fica o Ponto da Coalhada e o Dedé Lanches) ficava a casa em que morou o primeiro Juiz de Direito de Altos (1922-1930), Dr. Odorico Jayme de Albuquerque Rosa (mais tarde serviu de morada a José Gil Barbosa no seu primeiro mandato como prefeito, Jorge Pereira Santos e, por último, antes de ser demolida, foi a primeira sede da Guarda Municipal de Altos). É ali, no entorno da Igreja, que foi construído o Mercado Público de Altos (hoje Centro Cultural Zé da Prata) construído na década de 1930.
Apesar das referências documentais à denominação “Praça Cônego Honório 28 de maio de 1946, a poetisa e cronista Antonia (Totonha) Ribeiro de Almeida escreveu o texto “Altos até 1944”, donde se lê o seguinte:
A vida em Altos é um pouco monótona para uns, mas outros divertem-se como se aqui fosse uma grande cidade, centro de civilização. Não temos cines nem praças, nem clubes, mas quando dizem “Onde iremos hoje?”, como nos anúncios de cinemas em jornais, respondem logo: “Vamos dar um passeio na piçarra!”. (ALMEIDA, Antonia Ribeiro. Devaneios. Ora organizada por Carlos Alberto Dias. Altos, 2010)
É que, até então, no lugar da Praça, só havia, de fato, o largo da Igreja, com algumas árvores, que só receberia as feições comuns a uma praça como entendemos hoje (pavimentação, banquinhos, etc) por ocasião da construção que se faria bem mais tarde. Mas aquele velho largo, já trazia a denominação de “Praça Cônego Honório”, como se viu. A piçarra, nesse tempo, era como chamavam a Avenida Getúlio Vargas (hoje Avenida Francisco Raulino) e, até então, disputava com a “Piçarra” (hoje Avenida Francisco Raulino), que na época tinha pouco trânsito de veículos, a atenção dos altoenses, como local de passeio, lazer e sociabilidade.
Até que fosse encontrada essa referência denominando o largo da Igreja de Praça Cônego Honório ainda em 1927, quase cinco anos depois da emancipação política da cidade, a mais antiga referência à denominação “Praça Cônego Honório Saraiva” datava de 1948, conforme texto de Carlos Alberto Dias publicado no Portal Altos em 2018:
Após muito vasculhar nas pesquisas que desenvolvo há mais de 25 anos e nos livros de atas da Câmara Municipal de Altos, vi que a mais antiga referência à Praça Cônego Honório Saraiva (este o seu nome oficial) se deu na sessão da Câmara do dia 14 de junho de 1948, quando o Padre Josino Borges Leal requereu ao Legislativo Altoense a doação de um terreno para a construção da Casa Paroquial de São José, no que foi prontamente atendido pelos vereadores de então.
A praça é usada no documento como referência territorial limítrofe do terreno cuja posse era pleiteada pelo citado sacerdote. (DIAS, Carlos Alberto. Texto de Carlos Dias apresenta histórico da Praça Cônego Honório. Portal Altos, 30 dez. 2018. Disponível em: <http://portalaltos.com.br/496rujs8fs216>. Acesso em 23 out. 2024.).
Em meados da década de 30 teve início a construção da segunda igreja de São José, maior por conta da população ter crescido, que ficava no lugar em que se mantém a Igreja Matriz até hoje, apesar de nesse meio tempo já ter passado por diversas reformas. A Igreja, contudo, só veio a ser concluída depois da chegada do Padre Josino Leal (que foi padre na Igreja de São José de 05/08/1944 até 1951), mais ou menos por volta de 1949. Por essa época, (anos 30 e 40), conforme Ignes Sousa, “o largo da igreja era muito grande” e “não havia ainda a praça ajardinada”.
Em 1943, contudo, era criada a Paróquia de São José:
No dia 09 de março de 1943 é erigida canonicamente a Paróquia, elevando-se à categoria de matriz a igreja de São José. A criação e ereção da nossa Paróquia deve-se ao então Bispo do Piauí, Dom Severino Vieira de Melo. (DIAS, Carlos Alberto. Na Fé da Minha Paróquia. Altos, 2009. p. 19)
Depois da elevação a Paróquia, Padre Josino foi o primeiro Padre por aqui e se encarregou ele de dar acabamento à reforma da Igreja até que ela restasse pronta:
Ele reformou as capelas laterais, dando mais altura e dimensão. Reformou a torre, que era abobadada, deixando-a mais alta e ponteaguda. Reformou o altar-mor. Este foi pintado todo de tinta dourada e prateada. Fez a pintura prateada da parte superior da torre, que de longe refletia a luz solar. Construiu o côro e a escada em caracol em concreto. Fez o forro de toda a igreja e meteu o piso em mosaico preto e branco e completou os lados da igreja, partindo das capelas laterais até a fachada, com muretas complementadas por grades de madeira lavrada em pontas. E plantou roseiras e outras flores.
Em 1949 estava tudo concluído, inclusive o patamar, cinco anos após sua chegada.
O Pe. Josino Leal deixou esta Paróquia a 08 de agosto de 1951. (…) (SOUSA, Ignês. A origem da Paróquia de São José. 12 de outubro de 1991. In: SOUSA, Ignêz. Simplesmente...Ignês Sousa. Obra póstuma organizada por Carlos Alberto Dias. Altos, 2016. p. 60).
Francisco Ferreira Filho, vulgo Chiquinho Cazuza (1938-2001), nos fala do antigo Largo da Igreja de São José (Praça Cônego Honório) e da região em seu entorno:
A praça da Matriz, cujo nome oficial é Cônego Honório, era o centro. Não havia calçamento, nem número nas casas. Em lugar da praça arborizada que hoje vemos, havia apenas um imenso largo, que durante o inverno tornava-se um imenso tapete verde de grama que nascia espontaneamente.
(…)
Havia as velhas mangueiras, à frente da igreja, em número de seis, dispostas em duas fileiras. Atualmente só restam três, que felizmente, mesmo com a construção da praça, foram conservadas. Havia um cajueiro do lado oposto ao mercado público e uma alameda de figueiras e mais ao fundo uma imensa touceira de bambu, sobre o túmulo do Cônego Honório, que fixa por tráz do atual prédio da Biblioteca Municipal, havia também belas palmeiras de babaçu e outras; as mangueiras, que ficavam por traz da igreja foram todas impiedosamente derrubadas, sem motivo a não ser a ignorância ou a burrice.
Havia também um velho cruzeiro de madeira, marco do local da primitiva igreja demolida, que ficava mais ou menos no local da Biblioteca.
Defronte o Mercado havia também grandes e antigas figueiras e duas defronte a antiga Prefeitura, demolida para dar lugar a atual (…). Estas figueiras serviam de abrigo aos feirantes e era onde o povo do interior amarrava seus animais. (FERREIRA FILHO, Francisco. Memória: Uma cidade faz 65 anos. In: Jornal O Altoense, ano I, nº 2, maio de 1987. p. 3)
Voltando ao passado da pequena cidade de Altos, no final dos anos quarenta e início dos anos cinquenta, nos vem a mente uma comunidade muito unida, onde todos se conheciam e formavam uma grande família.
Recordemos, primeiramente, o aspecto da cidade, ainda sem calçamento e outros melhoramentos que vemos agora. Tinha na época pouco mais de 3.000 habitantes. O centro era a praça da matriz de São José, que nem era praça propriamente e sim um imenso largo arborizado com palmeiras, figueiras, mangueiras e um velho cajueiro. As antigas mangueiras eram seis, plantadas em duas fileiras. Segundo a tradição, por Donana Raulino, no final do século XIX. Ainda restam duas dessas mangueiras centenárias e não sabemos até onde resistirão ainda. As outras árvores foram substituídas por outra arborização com a construção da praça. , que também já sofreu várias reformas, como também a antiga matriz. (…) (FERREIRA FILHO, Francisco. O passado manda lembrança (Memória). Revista Altoense, ano 2, nº 2, outubro de 1999, p. 16).
Largo da Igreja Matriz de São José (Praça Cônego Honório Saraiva), em Altos, nos anos 1950 (foto publicada pelo IBGE em 1959)
Embora a foto acima tenha sido publicada pelo IBGE na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros em janeiro de 1959, a foto, obviamente, é mais antiga. Até porque antes de referida obra ser publicada os fotógrafos do IBGE tiveram que visitar os vários Municípios Brasileiros para coletar imagens das cidades, e esse registro, com certeza, não se deu em pouco tempo. Estimo que a foto seja de 1957, data que consta de outras fotos antigas de Altos ainda hoje verificáveis no site do IBGE. Contudo, com certeza, a foto não é de 1959.
É que, meu pai, José Gil Barbosa Junior (nascido em 25 de março de 1950), que na infância vivia nas proximidades da Praça Cônego Honório Saraiva, relatou-me que a Praça, com passeios pavimentados de pedras e cimento, com os banquinhos para os populares sentarem e com o coreto que havia nela, seguramente foi construída na primeira gestão de seu pai, José Gil Barbosa, como prefeito de Altos (José Gil, então eleito vice-prefeito com o Prefeito Domingos Félix do Monte, assumiu como vice em 31/01/1955, mas em 11 de abril do mesmo ano o Prefeito Domingos Félix se afasta do cargo por motivo de doença e José Gil cumpre como Prefeito o resto do mandato, governando até 31/01/1959, sendo que Domingos Félix, doente, falece em 19 de setembro de 1956. De acordo com meu pai, a nova Praça foi construída sobre o antigo largo da Igreja de São José, ainda em 1958, de modo que se lembra da construção e afirma, inclusive, que brincava com a meninada altoense no coreto da praça de “prenda”). Minha madrinha, Luzanira Rosendo Máximo Barbosa, viúva de meu avô José Gil Barbosa, também informa que tanto a praça, como o coreto, teriam sido construídas por Zé Gil, como teria ouvido muitas vezes do falecido marido, mas, contudo, não sabe precisar a data.
Deve, contudo, certamente, ter sido construída no primeiro mandato de Zé Gil (11.04.1955 – 31.01.1959), pois por ocasião de seu segundo mandato como Prefeito (31.01.1967 – 31.01.1971), de acordo com a memória de meu pai Zé Gil Junior, há muitos anos a praça já estava construída. O Professor Francisco Ferreira da Silva Neto, mais novo que meu pai apenas um ano, conta, inclusive, que não lembra do antigo largo, mas apenas da Praça já construída, em época contemporânea ao segundo mandato de Zé Gil.
Em 27 de novembro de 1967, publicou-se no Jornal de Altos o seguinte:
Caros leitôres; a nova geração de altoense, precisa de um clube juvenil, para que possa fazer algo, que promova o melhoramento e o desenvolvimento de sua terra que faça sentir-se orgulhoso de seu comportamento e digno de si mesmo.
(...)
Um clube juvenil, caros leitores, é uma escola; é um mestre para os jovens no qual age um modo diferente. É algo que dará muito mais resultado do que diálogos sem nexo com amiguinhos em bancos de praça. (BENEDITO, João. O Jovem e a Necessidade de um Clube, In: Jornal de Altos, ano I, nº 4, de 27 de Novembro de 1967, p. 3-4).
Nitidamente, de fato, em novembro de 1967, a Praça já estava construída, e não há notícia, naquele periódico, de que houvesse sido construída recentemente. Como o segundo mandato de Zé Gil se iniciou em janeiro desse mesmo ano, parece certa a informação de que teria sido em seu primeiro mandato a construção, o que de acordo com a sua memória se deu no ano de 1958.
Desde sua construção, ea praça passou a ser cotidianamente visitada por pessoas das mais diferentes classes sociais em Altos, em especial aos domingos, após as missas realizadas na Igreja Matriz.
De acordo com John Kennedy de Carvalho Justino (2012)
A praça Cônego Honório era um espaço de entretenimento em que convergiam vários segmentos da sociedade Altoense. Por estar no centro da cidade era movimentada constantemente durante o dia, sendo a sociabilidade marcada nesse espaço.
(…)
(…) A praça passa a ser o local das discussões, dos encontros amorosos, que fazem do lugar um espaço de lazer da cidade. (JUSTINO, John Kennedy de Carvalho. “DIVIRTAM-SE”: Em cena, o lazer e a sociabilidade em Altos-Piauí. Monografia apresentada ao Departamento de Geografia e História do Centro de Ciências Humanas e Letras da Universidade Estadual do Piauí, para a obtenção do título de Licenciado em História. Campo Maior, PI: UESPI, 2012).
Nos fala desse período, em texto publicado no Jornal de Altos, Antônio Francisco Lúcio Vieira:
(…) As praças, que todos os dias eram frequentadas por dezenas de pessoas, estão vazias. Os domingos, por exemplo, eram esperados desde a segunda-feira. Para se ir à praça tínhamos de colocar a melhor roupa: era o momento de sair e passear pela praça. Tinha a roda de dentro e a roda de fora, a de dentro era para o pessoal de melhor poder aquisitivo, porque não dizer os da “elite”, a de fora, para as classes menos favorecidas. Nada disso hoje mais existe. (VIEIRA, Lúcio. Os tempos mudaram. In: Jornal de Altos, ano I, nº 5, p. 4).
Dentre aqueles mais humildes que eram marginalizados, eram excluídos com muito mais força e notoriedade, aqueles estigmatizados pela sociedade, que só se atreviam a adentrar aquele espaço nas mais altas horas da noite.
No decorrer da semana, as prostitutas que eventualmente cessassem o trabalho nos seus respectivos cabarés, partiam para a Praça Cônego Honório (Praça da Matriz) onde faziam ponto a partir das onze da noite (FÉLIX, Francisco Rubens Visgueira. O Corpo a Troco da Dignidade (1970-1990). Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em História da Universidade Estadual do Piauí como requisito obrigatório para obtenção do grau de Licenciado em História. Orientador: Fábio Nadson Bezerra Mascarenhas. Campo Maior: UESPI, 2011).
Além desse efeito marginalizante verificado na forma das “rodas”, em que os mais pobres tinham que ficar às margens da Praça, havia, ainda, uma outra manifestação de “rodas”, destinada às paqueras entre os jovens altoenses. Isso se dava especialmente aos domingos, depois da missa a que as moças inventavam de ir para receberem permissão dos pais de depois poder passear na praça. Encerrada a missa, as moças ficavam a passear na Praça em movimentos circulares em que a rodeavam em um sentido único, ao passo em que os rapazes seguiam em outra roda, circulando a Praça no sentido oposto, e a paquera se dava naquele momento em que um passava pelo outro, quando trocavam olhares e se rolasse um clima, depois iam conversar sentados no banco da Praça.
Os mais atrevidos iam namorar na touceira de bambu que ficava onde hoje está construído o Centro Pastoral Monsenhor Luiz Brasileiro (local da primeira igreja). A touceira de Bambu, inclusive, ficava sobre o local em que no início do século havia sido sepultado o Cônego Honório. Alguns até diziam que o “fantasma do Padre” costumava espantar daquele solo sagrado os casais de namorados. Por sua vez, onde hoje fica a Biblioteca João Bastos e o Auditório Alberto Barbosa, havia, ao lado da igreja, em frente a Praça, uma gruta e um Parquinho em que brincavam as crianças, que também, ao menos durante o dia e cedo da noite, brincavam pela praça. Essa realidade perdurou até a construção da Biblioteca e do Auditório anexo a ela. Talvez justamente esse ritual de paquera tenha colaborado para que as rodas tivessem um caráter também marginalizante, eis que classes sociais, em geral, não podiam namorar, independente do sexo, a menos que se desafiasse as regras sociais de então, indo contra tudo e todos.
Parquinho das Crianças ao lado da Igreja de São José
O calçadão da Praça Cônego Honório foi construído pelo Prefeito Felipe José Mendes Raulino (03 de fevereiro de 1977 a 01 de janeiro de 1983), como espaço destinado a sediar eventos cívico-religiosos, em terreno pertencente à igreja desde o ano de 1933, quando havia sido comprado pela Diocese do Piauí (hoje Arquidiocese de Teresina) da Senhora Josefa Maria de Macêdo. Foi, ainda, no governo de Felipão que se procedeu à pavimentação asfáltica do contorno da Praça Cônego Honório. Foi também ele quem construiu a sede própria da Biblioteca Municipal João Bastos e o Auditório anexo a ela, ao lado da Igreja e em frente a Praça:
(…) Por volta de 1979, transfere-se a biblioteca João Bastos para um prédio próprio, mais adequado e espaçoso, oferecendo mais comodidade aos pesquisadores. O prédio estava ainda inacabado, com paredes sem reboco e ainda no piso bruto.
Em 1983, investido no cargo de Prefeito Municipal, Dr. José Gil conclui a construção do prédio iniciado na gestão de seu antecessor, rebocando-o e colocando o piso que faltava. Situado em local bem estratégico, este prédio está localizado na Praça Cônego Honório, no centro da cidade, ao lado da igreja matriz de São José. A inauguração se deu em 1983. A sala da direita abriga o Auditório Alberto Barbosa. (DIAS, Carlos Alberto. Biblioteca Pública Municipal João Bastos. Portal Altos, 10 nov. 2011. Disponível em: . Acesso em 23 out. 2019).
A lei municipal nº 54, de 25 de abril de 1981 dava ao auditório que vinha sendo construído na administração do então prefeito Felipe José Mendes Raulino, o Felipão (1977-1982) o nome de Auditório Cônego Honório.
Felipe Raulino, no entanto, deixou a Prefeitura sem concluir a obra, que levou na administração de José Gil Barbosa (1983-1988), sucessor de Felipe, o nome de Auditório Alberto Barbosa, tornando sem efeito a lei anterior sancionada por aquele administrador. (DIAS, Carlos Alberto. 160 anos de Cônego Honório. Portal Altos, 10 jul. 2012. Disponível em: . Acesso em 24 out. 2024).
Biblioteca Municipal e Auditório Alberto Barbosa em 1999.
Além da Biblioteca e do auditório, destaca-se ainda, ao longo do tempo, no entorno da Praça, sucessivas reformas na Igreja de São José, modificando sua aparência, e, ainda, a construção do Centro Pastoral Monsenhor Luiz Brasileiro, como nos conta Carlos Alberto Dias:
Padre José Machado Coelho, que abandonou o sacerdócio para dedicar-se ao matrimônio, fez, nos final dos anos 50, novas alterações na matriz, iniciando trabalhos de ampliação da mesma, erguendo paredes em torno das existentes, deixando a outra igreja por dentro, e levantando para o teto colunas de concreto em duas alas.
A poetisa Ignês Sousa nos informa ainda que era plano do aplicado padre Machado deixar a igreja de São José igual à catedral de Santo Antônio, de Campo Maior. Porém, não foi possível concluir a obra antes de sua saída, deixando por ser feito o acabamento.
Para o lugar do padre Machado veio, em caráter provisório, o padre Raimundo Nonato de Carvalho Melo que no dia 12 de julho de 1970 foi substituído pelo Monsenhor Luiz de Castro Brasileiro, que deu prosseguimento à ampliação da igreja, modificando, porém, parcialmente a sua estrutura. Monsenhor Luiz Brasileiro descaracterizou o belo projeto e, como os antecessores, destruiu o belíssimo patrimônio histórico e cultural da nossa cidade, que foi transformado numa obra sem arquitetura alguma, numa ligeira imitação de um armazém.
Monsenhor Luiz Brasileiro faleceu no dia 06 de julho de 1980, sendo sepultado dentro da matriz de São José. Foi substituído pelos padres Isaac José Vilarinho e Deusdedit Craveiro de Melo (ambos hoje Monsenhores).
Coube ao padre José Lisardo Pontes Neto, que assumiu a Paróquia no dia 15 de maio de 1983, a construção de uma torre na nova igreja, de capelas nos bairros Maravilha, Tranqueira, Batalhão e Santo Antônio/ São Luís, além do Centro Pastoral Monsenhor Luiz Brasileiro. Padre Lisardo deixou a Paróquia no dia 12 de abril de 1987. Anos mais tarde, fez-se a segunda torre (na lateral esquerda), já na feição atual, e, um pouco depois, alterou-se a estrutura da torre direita, igualando-a à esquerda.
Diversas outras mudanças e vários padres seguiram-se com o correr dos anos (…). (DIAS, Carlos Alberto. Na Fé da Minha Paróquia. Altos, 2009. p. 21-22)
A atual igreja de São José em diferentes momentos
Nos primeiros meses do ano de 1970, a Prefeitura, na segunda gestão de José Gil Barbosa como prefeito, adquire um aparelho de Televisão Colorado, em preto e branco, mas com um filtro sobre a tela que aparentava cores à imagem, para que o povo de Altos pudesse assistir a Copa do Mundo daquele ano, com imagens transmitidas pelas retransmissoras de sinal de TV que vinham dos vizinhos Estados do Ceará (TV Ceará, que transmitia programas da Rede Tupi) e do Maranhão (TV Difusora, que então transmitia uma programação mesclada com programas da Rede Tupi, TV Record e TV Excelsior desde 1966), de modo que, por meio dessas duas emissoras os altoenses puderam assistir à Conquista do Tri Campeonato da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. A primeira estação de TV no Piauí foi inaugurada no dia 3 de dezembro de 1972, com o nome TV Clube de Teresina, operando no canal 4 e prefixo ZYB-350. Naqueles idos, ressalte-se, a medida beneficiou a imensa maioria da população, eis que contavam-se nos dedos as pessoas que, até então, tinham aparelhos de TV em casa (apenas alguns membros de famílias mais abastadas).
Gilson Gil Barbosa e seu pai José Gil Barbosa em frente ao local em que ficava a TV na Praça Cônego Honório (1987)
A TV ficou funcionando na Praça por muitos anos ainda e mais tarde foi substituída por um aparelho de TV a cores que permaneceu na praça até pelo menos fins dos anos 80 ou início dos anos 90. Ali, nos tempos em que TV (em especial em cores) era ainda um artigo de luxo o qual os mais humildes não conseguiam comprar, muitas pessoas assistiam a programação de notícias, esportes, telenovelas, humor, infantis, etc. por aquele aparelho de TV. O coreto, por sua vez, teria sido removido da Praça, por volta de fins dos anos 70 ou início dos anos 80 do século XX (no governo Felipão).
Antes de sua demolição, o coreto era um espaço bem disputado pelos altoenses, sendo um destaque na arquitetura da praça em sua antiga configuração. Haviam ali as famosas Tertúlias, em que grupos de amigos, geralmente da elite política e econômica da cidade, se reuniam em confraternização uns com os outros, sendo que essas reuniões, geralmente, eram embaladas por música ao som de violões, rádios ou mesmo vitrolas toca-discos portáteis, em que, por vezes, moças e rapazes chegavam a consumir bebidas e cigarros (geralmente sem conhecimento dos pais).
Um dos grupos mais famosos dessa época eram os temíveis mariposas, descritos por Toni Rodrigues como
[…] filhos das oligarquias reinantes que se reuniam à noite para andar pelos bares da periferia e espancar casais de namorados e velhos indefesos; alguns, mais afoitos, chegavam a praticar assaltos, tomando dinheiro de suas vítimas indefesas para custear maconha e cachaça, que utilizavam durante a madrugada inteira em luaradas na praça da matriz, movidas a violas e cantorias que pertubavam a todos (RODRIGUES, Toni. Histórias Policiais & Memórias Ocultas. Teresina: Corisco, 2004, p. 21)
O antigo coreto também chegou, por vezes, a ser utilizado por foliões no período carnavalesco como palco de suas brincadeiras, como é o caso do Bloco Cassaco Também É Gente, que saiu às ruas em 1964, e
(…) teve sua formação idealizada por Edmundo Chaves do Nascimento. Seus demais integrantes eram: José Adelmo Furtado, Francisco Cícero Tavares, João de Deus Vitorino (Tatinho), Eduardo Buxudo, e seu irmão Carlinhos, Luzilso, Índio, Sargento Elifas Levi Pires Borges e outros. (RÊGO, Osaías. O Carnaval Altoense e Sua História. In: Revista Altoense, ano II, nº 2, outubro de 1999. p. 19)
Registros fotográficos de altoenses no antigo coreto
Essa primitiva praça possuía, ainda, no canto do lado que a separa do Calçadão (esquina com o início da rua Telésforo do Vale), uma caixa d’água de cor branca, abastecida por um poço tubular, que servia para abastecer de água a Praça, o Mercado e algumas casas próximas. Essa velha caixa d’água, palco de brincadeiras de muitas crianças, sobreviveu ali triunfante por muitos anos, e, talvez, se não tivesse sido removida, hoje o centro da cidade não enfrentaria tanta falta d’água, em especial no entorno da Praça. Dizem que o velho poço tubular que a abastecia ainda está ali intacto, pois quando da demolição da caixa d’água o tamparam com cautela, e, depois, recobriram o local em que ficava sob asfalto, de modo que reza a lenda que se retirarem o asfalto que o recobre, ainda poder-se-á encontrar o poço ali.
Na imagem acima, vê-se: 1) Comício das Diretas Já em Altos ao lado da Caixa d’água; 2) Barraca de São José com a caixa d’água ao fundo; 3) Praça Cônego Honório com a caixa d’água ao fundo e, ao fundo, visão livre para o comércio da Av. Francisco Raulino
Lembro que, quando criança, na década de 80, brincava na Praça de apanhar no chão, mais ou menos onde hoje fica o Parquinho das Crianças na praça, umas sementinhas vermelhas lisas e bem brilhosas, de uma vermelhidão muito viva, que hoje identifico como sendo sementes de Tento-Vermelho (Adenanthera Pavonina) e Carlos Alberto Dias identifica como sendo sementes de Mulungu. Era uma árvore alta, já antiga naqueles tempos, que, contudo, só existiu nessa configuração primitiva da Praça.
Sementes de tento vermelho, que antes haviam aos montes na Praça
Na minha infância, nos anos 80, o velho coreto já não existia mais, dado que havia sido demolido em fins dos anos 70 ou início dos 80. A sua base foi transformada, então, no que era o maior canteiro da Praça Cônego Honório, bem no seu centro. Ao lado desse canteiro, havia um selo metálico em formato circular com algumas inscrições que não me recordo, mas que me disse o historiador Carlos Alberto Dias que aquilo indicava ser o velho coreto o marco zero da Cidade de Altos. Com o tempo, aquele velho selo metálico, não resistiu, embora o canteiro (base do coreto) tenha continuado por ali por muito tempo.
Praça Cônego Honório – Altos, Piauí (anos 80)
Carlos Alberto Dias (2018) assim descreve a Praça em sua antiga configuração, sendo sua descrição muito próxima do que me recordo como tendo sido a configuração da Praça até o início da década de 90:
Como é natural acontecer, a estrutura original da Praça Cônego Honório foi muito alterada no correr dos anos. Nos meus tempos de criança (fins de 1979 e início da década de 1980), era uma praça ajardinada, com passeios e bancos de cimento. Havia as 03 centenárias mangueiras na frente (hoje não mais existentes), onde hoje se pega os ônibus para Teresina e outros centros urbanos. Na lateral direita da praça, ao lado do calçadão, bem na quina que dá para a igreja matriz de São José, havia um enorme e frondoso pé de mulungu, daqueles de caroço grande. A gente pegava as sementes, de um vermelho brilhante e vivo, para fazer colagens em trabalhos escolares.
Logo mais ao centro, ficava um canteiro oitavado (08 lados), onde estava incrustada uma grande moeda de metal, que era o marco zero da nossa cidade. Esse canteiro foi, em tempos remotos, a base de um coreto, onde se apresentava a banda de música, se proferiam muitos discursos políticos e realizavam tertúlias dançantes e outras atividades socioculturais.O coreto era uma bela e monumental peça arquitetônica, e foi demolido na gestão do Prefeito Felipe José Mendes Raulino (Felipão), que governou a cidade de 1977 a 1983.
Ali próximo à parada dos ônibus, mais ou menos no meio da frente da praça, havia uma caixa de concreto com uma televisão, que servia de entretenimento para os passantes e também aos desprovidos desse recurso de comunicação em suas residências.
Na quina da praça que dá para a Edifício Antônio Portella, por detrás da loja Marinheiro Construções, havia uma robusta caixa d’água, com formidável poço tubular que abastecia o comércio local e boa parte do centro da cidade. (…) (DIAS, Carlos Alberto. Texto de Carlos Dias apresenta histórico da Praça Cônego Honório. Portal Altos, 30 dez. 2018. Disponível em: <http://portalaltos.com.br/496rujs8fs216>. Acesso em 23 out. 2024).
Ainda em 1970, cabe destacar a inauguração do Mercado Municipal Cazuza Barbosa, por trás do primeiro Mercado (hoje Centro Cultural), pelo então Prefeito José Gil Barbosa.
Na imagem o Mercado Público Cazuza Barbosa à época de sua inauguração e em dias atuais
No primeiro governo de José Batista Fonseca, a Praça Cônego Honório é reformada, sendo, na ocasião, totalmente remodelada, sendo, tal obra, inaugurada em 12 de outubro de 1991 (DIAS, 2004, p. 56). Tenho minhas suspeitas de que o local em que ficava a velha televisão e a caixa d’água foram demolidos justamente nesse período. Embora o canteiro que antes era a base do coreto tenha permanecido, nessa nova arquitetura da praça, que teve como uma das maiores críticas a remoção dos bancos que, então, passaram a ser apenas extensões dos canteiros, creio que foi aí, também nessa reforma, que desapareceu o selo de metal que indicava ser o coreto o marco zero de Altos, que não se viu mais incrustado no canteiro que era a base do antigo coreto. Também nesses idos, salvo engano, é que pode ter sido removida a árvore de Tento-Vermelho, que soltava as sementinhas que eu brincava quando criança. A inauguração da reforma contou com a presença de várias autoridades e apresentação de repentistas.
Infelizmente, na gestão do ex-Prefeito José Batista Fonsêca (Dr. Fonsêca: 1989-1992), foi demolida a caixa d’água, a caixa da televisão, aterrado o poço (o que trouxe sérias complicações de abastecimento à população) e foram totalmente modificados os passeios e bancos, construindo-se os jardins suspensos que sobreviveram até o início do ano de 2018. (DIAS, Carlos Alberto. Texto de Carlos Dias apresenta histórico da Praça Cônego Honório. Portal Altos, 30 dez. 2018. Disponível em: <http://portalaltos.com.br/496rujs8fs216>. Acesso em 23 out. 2024).
Vista da Praça construída pelo Prefeito José Batista Fonseca (1991)
Até o início dos anos da década de 1990 não haviam sido construídos os prédios do Edifício Antônio Portella (da família do Sr. João Marinheiro) e nem o edifício ao lado (de propriedade do Cardoso), de modo que da Avenida Francisco Raulino era possível ver boa parte da Praça Cônego Honório, pois tudo que havia ali era um grande areial (terreno de solo arenoso). Do mesmo modo, da Praça, dava pra ver os pontos comerciais situados na Avenida Francisco Raulino. Os prédios em questão só vieram a ser construídos no decorrer da década de 90.
Terreno de solo arenoso que separava a Praça da Avenida Francisco Raulino
Ao lado do areial, ficava o Posto do Sr. Bernardino Teixeira (o primeiro posto de gasolina da cidade), que morava na Avenida Francisco Raulino bem em frente a Praça.
Nas figuras 1 e 2 antes e depois do primeiro posto de gasolina de Altos (hoje Posto Falcão I) e nas figuras 3 e 4 o antes e o depois da casa do proprietário, na Avenida Francisco Raulino.
Durante os anos 90, até o início dos anos 2000, Altos atraía praticamente todos os fins de semana, pessoas de cidades vizinhas como Campo Maior, Teresina, Alto Longá, Beneditinos, dentre outras, que vinham até aqui para as festas que se realizavam nessa época Clubes de Festas da cidade. Nessa época, haviam na Praça alguns trailers nos quais se vendiam lanches, que se verificavam nos arredores da Praça, ou, mesmo, sobre a própria Praça. A diferença básica entre os trailers no entorno da praça e aqueles que ficavam sobre ela era que os do entorno eram fixos, enquanto os que estavam sobre ela eram móveis. Desses trailers sobre a Praça, destaco o do Dedé Lanches, comandado, então, por referido empreendedor e seu irmão de apelido Piauí. Era comum, ainda, a presença de carros com potentes paredões ou caixas de som, disputando qual era o mais potente em volume de som.
Nesses idos, até altas horas da madrugada, a Praça era movimentada por pessoas, seja antes de entrarem em festas, ou depois de saírem delas, frequentando esses trailers de lanches, onde se vendia também bebidas alcoólicas. Haviam, ainda, o Bar do Catita e o Bar do Gildásio Falcão, no entorno da Praça. Era uma época em que a Praça se mostrava movimentada e animada, para quem não se incomodava com os ruidosos sons automotivos, que, por vezes, eram tão altos, que não permitiam ninguém conversar, senão aos gritos aos pés do ouvido do interlocutor. Essa época, talvez, tenha sido uma das mais animadas pra quem gostava de movimento em clima de festas e de uma boa farra. Ali perto, em frente ao antigo Mercado Público, hoje Centro Cultural, e em outros locais próximos, se viam umas senhoras, em suas modestas bancas, vendendo altas horas da noite, panelada e comida, para aqueles que saíam famintos das festas. Havia, ainda, o Bar da Fatinha, que primeiramente ficou na esquina em que hoje funciona o Dedé Lanches, e, depois, passou para o local em que hoje funciona a Drogaria Freitas (Farmácia da Fransquinha).
Em 10 de abril de 1994, o Padre Juarez Sousa da Silva assume a Paróquia de São José e dá início a uma grande reforma na Igreja Matriz, deixando-a quase como está nos dias atuais. Inclusive com as duas torres iguais.
Na gestão de Eliete Fonseca, em 1999 a Biblioteca e o Auditório Alberto Barbosa receberam nova reforma e melhoramentos, de modo que foi a partir dessa época que o auditório Alberto Barbosa passou a contar com ambiente refrigerado por ar-condicionado, conforme se pode ler da Revista O Altoense, ano II, nº 2.
No ano de 2001 é inaugurada, ao lado da Igreja de São José, a Praça de Santa Teresinha.
Praça de Santa Teresinha (2001)
Vale ressaltar que houveram algumas mudanças no entorno da Praça por volta de 2007 e 2008, em especial a retirada da Feira Livre da Cidade e a inauguração do Centro Artesanal e Cultural Zé da Prata, no lugar do antigo Mercado Público, que foi transferido para outro prédio:
É de fundamental importância na história da cidade o edifício público que por longas décadas sediou o Mercado Público Municipal de Altos, tendo sido ele uma das grandes obras dos primeiros anos de existência de nosso município enquanto vila independente.
Parcialmente descaracterizado em sua estrutura original, a edificação apresenta ainda muitas características da época de sua fundação. Apesar de não possuir grande riqueza arquitetônica, representa boa parte dos capítulos de nosso processo de urbanização.
Existindo como ponto de concentração desde os anos 30, a partir de 05 de outubro de 2007 o prédio deixou de sediar em seu entorno a feira livre de Altos, quando foi feita a transferência dos feirantes, marchantes, comerciantes, verdureiros e vendedores de aves e peixes para o novo prédio do Mercado do Produtor Rural, cognominado Pedro Arcanjo da Silva (Pedro Carneiro).
Inaugurado oficialmente em 07 de setembro de 2008, como parte das comemorações cívicas pela independência em nosso município, o espaço cultural criado no prédio do antigo Mercado Público de Altos, situado no calçadão da Praça Cônego Honório, leva o nome de Centro Artesanal e Cultural “Poeta Zé da Prata”. A denominação foi proposta através do Projeto de Lei de nº 012/2008, de 03 de setembro de 2008, de autoria do prefeito municipal José Batista Fonsêca.
Aprovada a proposição pela Câmara, o projeto virou a Lei Municipal nº 225/2008, sancionada em 22 de outubro daquele ano.
A transformação do lugar em um centro artesanal e cultural é resultado de proposta defendida por Carlos Alberto Dias, Osaías Rego da Silva, Antonio Francisco Rodrigues (Toni) e Rodrigo Veras, então diretor de cultura do município.
Ali há stands para exposição e venda de artesanato local, uma praça de alimentação e palco para eventos culturais. (DIAS, Carlos Alberto. Prata de Lei. 2. ed. Altos, 2019, p. 50).
No ano de 2016, o Padre Claudinei Silva promove grande reforma na Igreja de São José, climatizando a mesma com aparelhos de ar-condicionado, instalando vitrais e portas de vidro. Além disso, a área onde ficava a Praça de Santa Teresinha foi totalmente transformada, retirando a Praça (sobre a qual foi erguida uma grande cruz metálica), cercada por área ajardinada, e colocando um muro com grades galvanizadas, fechando o acesso direto à lateral da igreja.
Igreja de São José em sua configuração atual
O tempo vai modificando a paisagem, e, ao longo dos anos, alguns desses bares fecharam suas portas e os trailers foram removidos dali, mas essa configuração da Praça, tal qual inaugurada em 1991, salvo pequenas reformas de manutenção, teve sua arquitetura mantida até o ano de 2018, quando a então Prefeita Patrícia Leal, em seu segundo mandato (2016-2020), mandou demolir toda a Praça da forma como havia sido construída por José Batista Fonseca em 1991, e, em uma reforma que durou meses, remodelou novamente toda a configuração da Praça, fazendo nova inauguração em 24 de dezembro de 2018, que nada aproveitou da estrutura anterior a não ser algumas árvores que se salvaram por ocasião da reforma, mantendo-se nos jardins da Praça inaugurada por Patrícia.
A Praça ganhou novos planos de iluminação, arborização, pavimentação com passeios livres, bancos de cimento e madeira e um letreiro com o nome da cidade. A obra foi realizada com recursos próprios do município, além de um lago artificial (também chamado de espelho d’água) no centro do logradouro público.
Vídeo mostra a Praça Cônego Honório inaugurada em 2018 e a Igreja de São José
Vale também lembrar que depois da reforma promovida por Patrícia Leal, os ônibus intermunicipais que passam por Altos não mais passaram pela Praça Cônego Honório, sendo realocado o lugar de parada no Centro da Cidade para a Rua Antonino Freire (fundos do Cardoso do Centro e frente para os pontos comerciais do falecido Pedro Melo), encerrando uma tradição de décadas durante as quais, por gerações, a Praça Cônego Honório serviu de rodoviária, tanto que haviam ali pequenos guichês de madeira que serviam de representação a várias empresas de ônibus que passavam pela cidade. O trânsito de ônibus fazia com que inúmeros vendedores ambulantes, buscando auferir renda, ficassem pelas imediações da Praça ofertando seus produtos (frutas, bebidas, castanhas, etc). Dentre as razões para a mudança estava o fato de que se construía, à época, o Terminal Rodoviário de Altos, que, contudo, só passou a funcionar efetivamente na gestão seguinte.
Parada de ônibus na Praça Cônego Honório
Em 12 de Outubro de 2021, o Prefeito Maxwell Pires Ferreira, em seu primeiro mandato, durante as comemorações dos 99 anos da emancipação política de Altos, efetuou novos melhoramentos na Praça Cônego Honório, alterando parcialmente, mas de forma substancial, o modelo inaugurado por Patrícia Leal três anos antes. Do site institucional da Prefeitura lê-se o seguinte:
No complexo da Praça Cônego Honório a prefeitura entrega um parque infantil que homenageia Antônio Francisco Alves da Silva, uma fonte paisagística iluminada, um São José talhado em tronco de árvore reutilizado e ilustração das letras “Altos”. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ALTOS. Nos seus 99 anos, Altos homenageia personalidades históricas e culturais. Altos, PI, 11 de outubro de 2021. Disponível em: <https://altos.pi.gov.br/nos-seus-99-anos-altos-homenageia-personalidades-historicas-e-culturais/>. Acesso em 24 out. 2024).
Sobre essa reforma mais recente foi construído, próximo à frente da Biblioteca, um parque para as crianças, com balanços, gangorras e escorrega, que sai de uma casinha no alto, onde as crianças sobem por escadas e rampas com cordas. Essa parte elevada, além da casinha, possui uma ponte de madeira, que dá em outro local de acesso à parte elevada. O parque, que leva o nome da criança altoense falecida Antonio Francisco Alves da Silva, é todo construído em madeira.
A fonte iluminada, tem em seu interior uma construção rochosa artificial (na verdade feita artesanalmente de cimento e outros materiais) de onde a água cai, lembrando uma pequena queda d’água natural, que escorre por sobre o pedregulho artificial, muito semelhante aos que se verificam na natureza, caindo na área da fonte que a circula, formando um lago artificial, sobre o qual, de um lado há, ainda, uma ponte construída artesanalmente, que aparenta ser de madeira (na verdade de cimento), por onde os populares podem passar sobre o lago artificial. A fonte foi construída por um artista de nome Flávio (não identifiquei o sobrenome, mas sei que não era natural de Altos), contratado pela Prefeitura para a empreitada. O certo é que a fonte, de característica arquitetônica eclética romântica, constituiu-se em importante cartão postal da Praça.
Além disso, buscando destacar os caracteres culturais de nossa região, o letreiro que havia na Praça, com o nome ALTOS, desde a gestão de Patrícia Leal, foi totalmente repaginado. Em lugar das cores alternadas em cada letra, como ocorria antes, foram pintados no letreiro, pelo artista altoense Francisco José da Silva Nascimento (Kikiko), desenhos que lembram a identidade cultural de nossa região.
No meio tempo em que se davam todas essas reformas, houve forte temporal, que veio a derrubar um pé de amêndoa que havia na Praça, deixando ainda enraizado ao solo do canteiro em que se encontrava uma parte de seu tronco. Dos restos mortais daquela velha árvore, a gestão teve a idéia de convocar o artesão altoense, produtor de arte santeira, Ivo Neres Ferreira, para desafiá-lo a transformar aquele velho tronco em uma estátua, em arte santeira, de São José, padroeiro da cidade de Altos. Depois de alguns dias de trabalho, Ivo Neres deu origem a uma bela estátua em arte santeira de São José dos Altos, que carrega em uma das mãos o menino Jesus e, na outra, um cacho de mangas, fruta que se tornou símbolo da cidade de Altos.
vídeo institucional mostra Praça reformada por Maxwell em 2021
Logo depois da inauguração, ao longo de vários meses, o Prefeito Maxwell implementou, ainda, o Projeto Cultural “Música na Praça”, em que artistas altoenses, do ramo musical, devidamente remunerados pela Prefeitura, se apresentavam na Praça, a cada fim de semana, atraindo multidões de altoenses para o passeio no logradouro público. O projeto, contudo, se encerrou tão logo chegou o período chuvoso, e não retornou até hoje, deixando saudades na memória dos altoenses.
Hoje, no entorno da Praça e da biblioteca, existem estabelecimentos comerciais que, à noite, vendem comida, pizza, sorvete, açaí, hambúrgueres, pastéis, coxinhas, cerveja e refrigerante, dentre outros itens de consumo. Dentro do Centro Cultural Zé da Prata (antigo Mercado Público), o restaurante “Sertão de Dentro”. No local em que ficava a antiga Prefeitura, foi inaugurado dia 12 de outubro de 2024, o Centro de Formação Continuada Zeca da Mariínha, pelo Prefeito Maxwell Pires Ferreira.
Um diferencial em relação aos tempos antigos é a presença de Wi-Fi livre na Praça, onde usuários portadores de celulares e outros dispositivos móveis podem acessar o sinal de internet gratuitamente para se conectar à rede mundial. Foi com essa paisagem, destaque-se, que Altos comemorou seus 100 anos de emancipação política, com grande festa no entorno da Praça.
CONCLUSÃO
Vale ressaltar que da história que contamos até aqui, boa parte dela se desenrolou no século XX, período no qual a cidade de Altos era bem pequenininha ainda, e a maioria de sua população vivia na zona rural. Só na década de 90 do século passado é que Altos passou a ter mais habitantes morando na zona urbana que na zona rural. É importante atentar a isso, pois a urbanização de nossa cidade está apenas começando, e cada dia vivido é uma nova história pra contar.
O Bradesco foi o primeiro banco a se instalar na cidade, em 1979, não obtendo êxito, anos mais tarde “fechou as portas”, reabrindo novamente, com agência fixa em 2012. Em 1980 foi instalado na cidade um posto de atendimento do Banco do Brasil, sendo a agência bancaria de Altos criada dois anos mais tarde. Em 2013 foi inaugurada na cidade uma agência da Caixa Econômica Federal. Além dessas instituições, o município conta ainda com a presença de duas casas lotéricas, um correspondente Caixa Aqui e com uma agência dos Correios. Outros órgãos Públicos com representação são um prédio da Previdência Social, DETRAN, Fórum, Cartórios e um Espaço da Cidadania, que expede Carteiras de Identidade.
A modernidade contemporânea trouxe inquestionavelmente avanços necessários, mas a memória nos ajuda a resguardar nossa identidade como altoenses, o que fomos e o que somos, para que possamos continuar levando-a à frente para as gerações futuras.
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